Minha Mãe
- lollademiguel
- 24 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Para homenagear a minha mãe, as mulheres que cuidaram de mim como se eu fosse filha delas e todas as mães do mundo, eu gostaria de compartilhar este texto que escrevi com o coração a flor da pele.
Em 1984, exatamente no Dia das Mães, minha mãe foi assassinada na minha frente e de minha família. É preciso admitir: essa não é a minha data favorita no calendário.
Crescer sem mãe é, provavelmente, a coisa mais difícil pela qual uma criança pode passar. Ninguém pode substituir o sentimento de preenchimento que existe na relação entre uma mãe e uma filha.
Eu não posso dizer honestamente que sinto saudades de minha mãe, pois, na verdade, não tivemos muito tempo juntas. Tinha apenas 03 anos, não houve tempo suficiente para criar memórias palpáveis. Aliás, dificilmente me lembraria até mesmo de sua aparência, não fosse pelas fotos.
As mães são objetos permanentes na vida de uma pessoa e quando você não passa pela experiência de ter uma, o que se forma é um vazio que nunca será preenchido. Apesar dela ter falecido quando eu ainda era muito pequena para sentir sua falta, eu sinto falta de tudo o que eu não tive devido à sua ausência: do amor incondicional que só ela poderia me dar, do sentimento de segurança e proteção causado apenas pela sua presença ao meu lado.
Sinto falta dela me colocar para dormir, de ler uma história e de me dar um beijo de boa noite. Sinto falta do orgulho que ela teria todas as vezes em que fui bem na escola e de suas broncas quando não me comportei. Sinto falta de ter me divertido e brincado com ela na praia. Sinto falta de não ter recebido seu abraço quanto tive meu coração partido pela primeira vez, ou pela décima, e dos prováveis conselhos que ela teria me dado.
Eu realmente senti sua falta no dia em que me casei. Fico pensando como teria sido este dia com ela ao meu lado. Eu sinto falta dela neste exato momento e em todas as vezes em que tenho alguma dificuldade por viver em um país diferente. Como gostaria de poder ligar para ela e conversar...
Definitivamente, sinto falta dela dizendo o quanto me ama. Às vezes, sinto falta da vida que teria tido se ela não tivesse morrido, pois associo muitas das experiências ruins pelas quais passei ao fato de minha mãe não ter estado lá comigo.
Não ter minha mãe por perto me levou a viver uma vida completamente diferente daquela que talvez tenha ela planejado para mim. Isso me forçou a ser forte e a amadurecer muito mais cedo do que as outras crianças. Talvez tenha sido bom, pois aprendi a me defender e sobreviver, mas também ruim, pois isso ressona de alguma maneira em minha vida adulta.
Depois que minha mãe faleceu, morei em diferentes casas. Morei com minha avó, depois com um dos meus tios e sua família, passei muito tempo nas casas dos meus vizinhos e no sítio de meu pai. Em cada uma delas enfrentei diferentes problemas: minha avó me amava profundamente mas não tinha condições financeiras para cuidar de mim; na casa do meu tio, ganhei presentes preciosos: irmãos – assim os vejo, mesmo sendo só meus primos - mas nem todos da casa me amavam e isso ficava claro para mim, diariamente. Já meu pai era alcoólatra e não conseguia cuidar nem de si mesmo.
Quando eu tinha quatorze anos decidi que eu mesma tomaria conta de mim. Então mergulhei fundo nos estudos, fui a melhor da minha turma, aprendi diferentes idiomas e comecei a trabalhar. Assim, eu poderia me sustentar e ser capaz de viver onde eu me sentia amada, com a minha querida avó.
Algumas pessoas são insubstituíveis e mãe é uma delas. Muito embora ninguém realmente tenha preenchido o espaço vazio que a minha deixou, tive algumas figuras amorosas na minha vida. Mulheres especiais foram colocadas no meu caminho e me ajudaram, com carinho, conselhos e amor. Eu não tive minha mãe por perto e a morte dela foi uma tragédia que causou um impacto imenso em minha vida, mas sou grata a todas essas pessoas e mulheres que me deram amor suficiente para continuar.
Acredito que tudo acontece por uma razão e que eu sou o resultado de tudo o que aconteceu comigo até agora. Sou o produto da minha história: da tragédia, do amor que recebi de pessoas que não tinham a menor obrigação comigo, dos desafios que enfrentei e das conquistas que obtive. Tudo isso, me trouxe até aqui e definiu quem eu sou.
Sou grata pela minha mãe todos os dias, pois ela me deu o melhor presente possível: a vida. E talvez a principal lembrança que tenha dela, é a certeza que ela me amou profundamente.
Feliz Dia das Mães a ela e a todas as mães!
