O Caminho de Volta
- lollademiguel
- 24 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Há quatro anos eu me despedia do meu país, da minha família, dos meus amigos e da minha carreira para acompanhar meu marido em um projeto especial nos Estados Unidos. Hoje eu percebo, que apesar de estar me afastando fisicamente de tudo e de todos, apesar de estar indo embora, naquele momento eu estava iniciando um longo retorno, um caminho de volta pra casa, pra mim mesma.
Decidi que iria aproveitar a mudança para investir na Lolla, minha marca de joias feitas à mão que até então era apenas um hobby com algumas vendas pontuais. Uma vez instalados no novo endereço, mergulhei de cabeça na Lolla: criei listas sobre o que fazer, e o que fazer primeiro – afinal de contas empreender vai muito além de criar um produto, aliás, eu diria que a criação do produto em si, ao menos no caso da Lolla, consome de 30 a 40% do tempo do negócio, enquanto que o planejamento, propaganda, criação de conteúdo para mídias sociais, manutenção do website e outras plataformas de vendas, assim como controle de estoque, cálculo de custo e tudo mais que eu não me preocupava muito antes, consome o restante do tempo, especialmente para quem é iniciante no business.
Demorei bem pouco tempo para perceber que, apesar de amar a arte da joalheria, não sabia nada sobre empreendedorismo. Cada atividade não relacionada à criação que eu tinha que executar era uma dificuldade, meu corpo chegava a doer. Fiz investimentos financeiros altos, mas principalmente investi minha alma em um lugar onde ela estava implorando para cair fora. Claro, que essa “manifestação” me deixou aterrorizada, afinal de contas, se eu não puder suceder no meu sonho de vida, o que sobra? Não é isso que ouvimos e aprendemos desde cedo? Que temos que perseguir nossos sonhos, que não seremos felizes enquanto não estivermos fazendo todos os dias aquilo que mais amamos? Pois bem, eu estava dedicando 100% do meu tempo à joalheria, esse era o meu sonho, mas eu não estava nem um pouco feliz, e não conseguia me enxergar feliz em nenhum futuro próximo, eu estava me sentindo miserável.
Foi somente quando li o livro “Big Magic” da Elizabeth Gilbert, que tive uma das grandes revelações da minha vida: a minha arte não precisa pagar as minhas contas, a criatividade do trabalho manual desaparece quando se encontra sob a pressão que essa obrigação causa.
Foi quando decidi dar um tempo à Lolla; desmontei o atelier, fiz algumas liquidações e parei de produzir, de desenhar, de atualizar as mídias sociais e as demais atividades do negócio. E quando finalmente me encontrei sozinha, me vi obrigada a encarar as sombras das quais passei boa parte da minha vida fugindo, na maioria das vezes através da velocidade de uma vida atribulada por uma carga de trabalho pesada que eu me auto impunha; eu não podia parar, minha alma sabia que se eu parasse não poderia mais fugir de mim, e teria que encarar os fantasmas – e verdades – que me assombravam. E assim eu comecei meu caminho de volta pra mim, com crises de ansiedade, de tristeza, raiva e depressão... senti raiva de pessoas por coisas que aconteceram há quase vinte anos atrás, abracei o luto pela morte da minha vó, da minha mãe, do meu pai... perdoei algumas pessoas – outras ainda estão em progresso – me perdoei, e tomei a decisão de que nunca mais fugiria de mim, iria sempre me encarar e me acolher quando precisasse, mesmo estando ainda no estágio de aprendizado sobre como fazer isso.
O universo nos manda sinais o tempo todo e às vezes o faz de uma forma muito clara. Além do forte sentimento de que estou “voltando para mim” com todo esse processo, voltamos de vez ao Brasil no final de 2020, uma volta para casa que abrange todos os aspectos da minha vida: físico, emocional, espiritual e intelectual.
A Lolla de Miguel foi um sonho, e ocupou uma grande parte da minha vida, foi meu hobby e meu negócio, mas para quem conhece a história, foi bem mais que isso: foi um resgate! Da minha história e da história da minha família (Lolla de Miguel era minha bisavó – se tiver curiosidade tem um post inteirinho sobre isso).
Decidi escrever esse texto, porque hoje sei exatamente o que preciso fazer: Vou criar um novo espaço para expressar minhas brincadeiras artísticas; as vendas ainda ocorrerão em um espaço virtual, um novo estúdio em minha nova casa no Brasil está montado, sem rótulo de hobby ou negócio, por hora é apenas um lugar para deixar minha alma brincar livre, que pode resultar em uma joia, um desenho ou um textão como esse. Minha história ainda não acabou e eu sei que ainda terei muitas curvas pelo caminho, mas nesse momento meu corpo e minha alma se reencontraram e a partir daqui seguimos juntos. Te apresento Débora Miguel. Seja bem-vindo!
